sexta-feira, 9 de novembro de 2012

carta para um irmão que sai de casa, janeiro de 2011

Desculpa, F., pelo não dizer.

Sou péssima com despedidas e tenho sido péssima desde que descobri que precisaria me despedir de você. Mas é que a gente se acostuma com a sua presença silenciosa no canto da sala, parecendo que não tem ninguém ou pentelhando, como se não fosse um, mas vinte de você.

Eu queria agradecer, de verdade, seu ombro no primeiro minuto do ano. Você sabe como foi foda. Sempre que as crises voltam eu lembro do que você me disse, que esse ano vai ser melhor porque pior que 2010 não dá pra ser. É verdade. E eu espero que seja mil vezes melhor mesmo, porque você merece.

Quero que você entenda que essa minha distância é um modo de estar perto. É que eu tenho essa coisa de gostar demais das pessoas e elas sempre vão embora. Daí sobra essa falta que não cabe em mim. Sinto falta de ver tv de madrugada com você, das poucas vezes que a gente saiu junto, das conversas...

Quero que você saiba também que em nenhum momento eu deixei de torcer por você. Eu tive um pouco de inveja, na verdade, porque vi você seguindo pelo caminho que eu quis, mas não tive coragem nem apoio de seguir. Doeu muito. Foi como se eu acabasse de ver os últimos anos no lixo. Mas daí eu vi que meu caminho era outro, que as coisas aconteceram da maneira certa e acima de tudo: que importa mais a sua felicidade do que remoer minhas frustrações.

Quero que você seja MUITO feliz, que curta cada momento, cada festa, faça muita coisa errada, que não se esqueça de estudar bastante (Direito não é fácil) e que conte comigo pra qualquer coisa. Quando quiser um conselho, um conforto, um pouquinho de casa, por mais que eu não seja muito boa nisso, lembra que eu não durmo mesmo e você pode ligar em qualquer momento.

E me desculpa, mas uma vez, pelos últimos meses.

(carta para um irmão que sai de casa, 29/01/2011)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Para aquela que é pra sempre

Eu tava aqui, lendo umas cartas antigas e pensando no tempo. É tão inevitável que ele passe, que ele fuja da gente assim, sem nem perguntar se nós concordamos com as implicações disso tudo... Eu esqueço de lembrar, assim não parece tão longe e tão forte. Mas dá uma saudade imensa daquela época em que a gente voltou a se falar e passava duas horas no telefone fazendo listas, sofrendo por causa de garotos (você consegue imaginar que os amores das nossas vidas tinham entre 13 e 15 anos?), que eu ia na sua casa pra passar a semana, sem me preocupar com o fim das férias (que agora praticamente não existem), sem medo de não ter destino nenhum, sem a obrigação de planejar um futuro... Ah, a gente sofria por que mesmo?
Tenho saudade até das pequenas coisinhas. De ir dormir na sua casa e passar a madrugada conversando, "falando água", como sua mãe dizia. De falar sobre nossos medos - que eram tão diferentes e tão parecidos - com conselhos e compreensões, com brigadeiro, hambúrguer, bacon ou qualquer outra coisa indigesta demais para as quatro da manhã. De você inventando histórias sobre como eu conheceria o homem da minha vida (e eu sempre te interrompia, porque você gostava de histórias em que eu era atropelada). De não ter que ir embora correndo no dia seguinte. Saudades de ficar na piscina e de você tirando mil fotos que eu saia de plano de fundo, sempre fazendo careta por não ter mais caras pra sair em fotos... Ou de tentar cantar as músicas que milagrosamente estavam no nosso tom, de passar frio no seu quintal e te dar broncas por se iludir tão fácil com a internet. Faz falta demais. Não só porque o tempo passou e nossas agendas parecem cheias demais pra se encaixar um prazer, mas porque nós mudamos muito. Aquelas duas meninas já não existem. Elas não têm espaço nesse mundo sujo, só cabem na lembrança colorida e leve, nas brincadeiras que inventavamos outro dia pelas ruas da minha casa.
Há um tempo atrás me culpei imensamente pela sua crise. Você estava mal e eu tinha parte da culpa, sim. Eu sabia que você podia ser salva, porque aquela mesma voz que se dizia fraca contra os seus próprios desejos, naqueles olhos que sofriam por erros impulsivos, eu via uma criança que pulava o muro da minha casa pra brincar escondida da empregada. Eu via a menininha que se dizia sonâmbula pra me assustar de noite, minha companheira de loucuras infantis e sonhos. Eu sempre soube que você e essa menina eram a mesma pessoa, e me afastar foi o pior que eu fiz. Depois resolvi me compensar. Que tipo de amiga eu seria se não insistisse até encontrar o lugar onde você estava escondida? Tenho tentado ser melhor sempre, porque eu sei que você merece.
Eu gosto de te ouvir falar e de saber que o que você me diz é exclusivo. Porque você, como uma leonina típica, é cercada por amigos que te idolatram e querem saber tudo sobre você. Mas tanto tempo de convívio me trouxe certa prioridade que eu valorizo muito. Gosto também de quando falo, porque por mais que você não entenda, me apoia. Você me dá esperanças nas minhas paixões platônicas e na vida que eu levo cabeça a dentro. Aliás, essa é a nossa maior diferença: você pensa sobre o que você vive, e eu vivo sobre o que eu penso. Somos opostas e ainda assim nos compreendemos.
Saio de casa e o cenário está todo lá: as árvores onde a gente subia, a casa que jurávamos assombrada, os muros que agora parecem altos, nosso eterno refúgio de criança que guarda as marcas da infância. Crescemos, sim. Mudamos, sim. São mais de dez anos ao seu lado, e como você mesma disse, eu nem lembro do mundo antes de conhecer você. Serão mais tantos anos, tantas histórias. Seremos velhinhas finas, tatuadas e moderninhas, teremos casas vizinhas (se um dia você voltar do Rio), jamais perderemos a loucura de mulheres neuróticas pelas madrugadas insones. Amigas são para sempre. Você é para sempre. Não se perca de novo, por favor. Não se afaste mais de mim. Mas se um dia isso acontecer, pode ter certeza: Pararei meu mundo só pra te buscar.

sábado, 30 de maio de 2009

Para ler ouvindo: Tianastácia - O Grito

Eu me formei. Todas as garotas dançaram valsa com os pais, mas eu dancei com o meu irmão. Foi engraçado, já que nenhum de nós sabia o que fazer. Ele me rodopiava e eu me sentia a estrela da pista de dança, nem liguei de incomodar os outros convidados. Tinham era inveja da nossa criatividade. Eu sorri feliz das minhas conquistas, de ter chegado lá. Mesmo que você nem soubesse que lá era meu destino, mesmo que você nem parecesse se importar. E eu não senti sua falta.
Não é triste isso? Eu já te chamei de pai. Mas buscando passado e revivendo emoções, essa é uma palavra digna de merecimento. E você, longe de merecer, parece desprezá-la. Ou talvez apenas ignore seu significado. E eu, que nunca fui pai, expliquei diversas vezes qual era o seu papel na minha vida. Olha, você tem que se preocupar com as minhas notas do colégio e o meu programa de tv preferido. Você tem que me amar, porque é o que os pais fazem. E quando você sentir esse amor, me liga e diz isso. Sente minha falta de vez em quando e me manda um e-mail só pra comentar que ouviu a música que eu gosto e lembrou de mim. Ou melhor, não faça nada disso. Nada vai me recuperar.
Pior que o ódio, só a indiferença. Eu caminho entre esses dois estados numa rapidez inconclusiva, esquecendo da sua existência 364 dias por ano e odiando você quando sua voz ao telefone estraga meu dia. Esse é o seu problema: a mania de deixar as coisas pela metade. Por que você não desaparece pra sempre? Sua vida permaneceria igual sem mim. Confesso que chorei lendo o cartão de aniversário que você me mandou. Mas agora é tarde. Eu não vejo você há mais de um ano e você vem com palavras fáceis, achando que pode mudar uma vida inteira em poucos minutos... Não chorei de saudades, nem de arrependimento. Chorei de angústia, mágoa. Raiva, até. Você tem atrapalhado meus planos de independência, atormenta minha vontade de ser confiante. Eu nem acredito mais nos homens por sua causa: E se um dia eu resolver me casar e me deparar com um homem como você? Eu nunca me apaixonei. Nunca confiei em ninguém. E é tudo culpa sua.
Você nunca mais me viu. Não sabe mais a cor dos meus cabelos, se engordei ou emagreci... Não sabe que mudei meu curso de faculdade, mudei meus sonhos. Desisti de sonhos. O tempo continua correndo, tenho tanta coisa presa em mim. Só queria que você soubesse que eu não precisei de você. Que a sua vingança contra minha mãe não deu certo. Que descontar nos filhos suas frustrações só fez com que eu ficasse mais amarga, mais descrente. Sou seletiva e não sei manter amizades.
Isso te faz melhor? Diminuir todos à sua volta, te fez maior? Essa sua solidão ridícula é o que você queria? O sonho da sua vida era passar o natal sozinho assistindo tv? Então, parabéns. Você cumpriu sua missão no mundo. Chegou a hora de você sumir de vez.

Eu não quero mais te ver
Por que voltou?
Mais mentiras pra contar
Cansei de te escutar
Não há nada que me prenda à você
Você sugou o melhor de mim
E vem pedir perdão
Você é vida
numa estrada em contramão

quarta-feira, 11 de março de 2009

Para ler ouvindo: Coldplay - Fix You

Você, mais do que ninguém, sabe como eu fujo de sentimentos clichês. Não gosto da paixão, nem do medo, muito menos das saudades. Evito despedidas e reencontros muito emocionais. Você já me viu chorar; eu fico vermelha e estranha. Eu borro a maquiagem e as riscas pretas escorrem meu rosto. Pareço um pintura abstrata que não quis ser esteticamente aceitável.
Eu aprendi a lidar com a sua distância repentina, e você com a minha. Chegamos num ponto de entender a necessidade de silêncio uma da outra. Eu aprendi seus filmes preferidos e você os meus, eu descobri que podia te ligar às duas da manhã e você descobriu que as palavras de 'estou aqui pra você, sempre' eram mais reais do que imaginava.
A gente se conheceu e ponto. Nos escondíamos por trás de roupas e afastávamos olhares como quem protege o coração de mais decepções. Eu precisei falar demais pra esconder a falta de ter a quem dizer e você me ouviu. E me ouviu por mais três longos anos, sendo minha fuga num lugar com tanta gente e tão pouca afinidade. Você é minha fuga. É minha maior confiança.
Mas agora você vai. Não pra sempre, mas pra longe. E eu fico só de novo, e sinto tanto a sua falta... Você é meu apoio.
Amiga como você não é fácil de encontrar, mas é ainda mais difícil perder. A distância não vai ser suficiente. Espero que você veja em mim o que eu sempre vejo em você: a eterna companhia da minha vida.

Lights will guide to home
And ignite your bones
And I will try to fix you

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Para ler ouvindo: Almost lover - A fine Frenzy

Vou tentar te fazer entender, mesmo que você não tenha perguntado. Só quero explicar tudo e falar com você pela última vez, se necessário.
Você ficou mal quando eu terminei, mas insisto que foi pelo seu bem. Seria pior comigo e não vou repetir todas as minhas razões que tanto te irritam porque você só finge entender. Tentar me entender foi um grande desperdício de tempo. Eu nunca me apaixonei por você, mas sempre gostei muito. Principalmente porque achei que você gostasse de mim. Admirei seu coração e respeitei seus medos. Agora, já não sei se ainda sinto.
Lembra da minha coleção de decepções? Você faz parte dela agora. Não definitivamente pela minha mania de preferir acreditar na inocência. Foi tudo uma coincidência até que se prove o contrário.
Foi algum tipo de vingança ou foi só por acaso? Qualquer das opções foi muito infeliz. Se você queria me ver mal, acertou muito. Mas conquistou um sentimento meu desaconselhável.
Certo, vamos parar com códigos e ir direto ao ponto. Você disse que não gostava dela (pra me agradar, porque era conveniente ou era verdade? Tanto faz.) mas agora resolveu procurar conversa. Adivinha? Achou! Eu sei, ela é super simpática. Você acha que ela tem tantos amigos por quê? Ela é linda, espontânea. Não é? E você sempre achou que eu estivesse errada, eu sempre te impedi de fazer amizade com alguém tão legal!
Vou ser mais específica: é como se você me dissesse "Tem razão, ela é melhor do que você. Toda a sua insegurança tem sentido e você vai passar o resto da sua vida à sombra dela. Porque é isso que você é: uma sombra. Alguns veem, acham diferente, mas logo se acostumam porque sabem que só existe durante o dia, logo some."
Você não tem idéia da profundidade que você acessou. É coisa de uma vida inteira, são comprovações de tudo de mais podre que me persegue. É profundo o suficiente pra eu querer você longe, só pra voltar a fingir que não existe. É muita mágoa e agora você faz parte disso. A classe dos suscetíveis à superficialidade, dos que preferem a mediocridade e arriscam a possibilidade.
Se isso te afeta eu não sei, mas quando você ganhou a amizade de msn dela, perdeu tudo o que eu guardava pra você. Se você não quis, ótimo. Eu falei que você me procurasse se minha amizade causasse algum interesse, mas já entendi o não.
Foi melhor que falar.
Obrigada por abrir meu olhos. Eu sempre achei que avisar as pessoas do que eu sinto fosse me prevenir de mais decepções, mas eu percebi que só me deixa mais vulnerável.
Idiota fui eu, de acreditar cegamente em tudo. Obrigada por me deixar mais seletiva, mais fechada.
Seria ridículo culpar você por alguma coisa. O resultado óbvio de tudo o que eu fiz só podia ser isso.
Foi melhor que falar.

well, I'd never want to see you unhappy
I thought you'd want the same for me

goodbye my almost lover
goodbye my hopeless dream
I'm trying not to think about you
can't you just let me be
so long my luckless romance
my back is turned on you
should have known you'd bring me heartache
almost lovers always do