terça-feira, 25 de agosto de 2009

Para aquela que é pra sempre

Eu tava aqui, lendo umas cartas antigas e pensando no tempo. É tão inevitável que ele passe, que ele fuja da gente assim, sem nem perguntar se nós concordamos com as implicações disso tudo... Eu esqueço de lembrar, assim não parece tão longe e tão forte. Mas dá uma saudade imensa daquela época em que a gente voltou a se falar e passava duas horas no telefone fazendo listas, sofrendo por causa de garotos (você consegue imaginar que os amores das nossas vidas tinham entre 13 e 15 anos?), que eu ia na sua casa pra passar a semana, sem me preocupar com o fim das férias (que agora praticamente não existem), sem medo de não ter destino nenhum, sem a obrigação de planejar um futuro... Ah, a gente sofria por que mesmo?
Tenho saudade até das pequenas coisinhas. De ir dormir na sua casa e passar a madrugada conversando, "falando água", como sua mãe dizia. De falar sobre nossos medos - que eram tão diferentes e tão parecidos - com conselhos e compreensões, com brigadeiro, hambúrguer, bacon ou qualquer outra coisa indigesta demais para as quatro da manhã. De você inventando histórias sobre como eu conheceria o homem da minha vida (e eu sempre te interrompia, porque você gostava de histórias em que eu era atropelada). De não ter que ir embora correndo no dia seguinte. Saudades de ficar na piscina e de você tirando mil fotos que eu saia de plano de fundo, sempre fazendo careta por não ter mais caras pra sair em fotos... Ou de tentar cantar as músicas que milagrosamente estavam no nosso tom, de passar frio no seu quintal e te dar broncas por se iludir tão fácil com a internet. Faz falta demais. Não só porque o tempo passou e nossas agendas parecem cheias demais pra se encaixar um prazer, mas porque nós mudamos muito. Aquelas duas meninas já não existem. Elas não têm espaço nesse mundo sujo, só cabem na lembrança colorida e leve, nas brincadeiras que inventavamos outro dia pelas ruas da minha casa.
Há um tempo atrás me culpei imensamente pela sua crise. Você estava mal e eu tinha parte da culpa, sim. Eu sabia que você podia ser salva, porque aquela mesma voz que se dizia fraca contra os seus próprios desejos, naqueles olhos que sofriam por erros impulsivos, eu via uma criança que pulava o muro da minha casa pra brincar escondida da empregada. Eu via a menininha que se dizia sonâmbula pra me assustar de noite, minha companheira de loucuras infantis e sonhos. Eu sempre soube que você e essa menina eram a mesma pessoa, e me afastar foi o pior que eu fiz. Depois resolvi me compensar. Que tipo de amiga eu seria se não insistisse até encontrar o lugar onde você estava escondida? Tenho tentado ser melhor sempre, porque eu sei que você merece.
Eu gosto de te ouvir falar e de saber que o que você me diz é exclusivo. Porque você, como uma leonina típica, é cercada por amigos que te idolatram e querem saber tudo sobre você. Mas tanto tempo de convívio me trouxe certa prioridade que eu valorizo muito. Gosto também de quando falo, porque por mais que você não entenda, me apoia. Você me dá esperanças nas minhas paixões platônicas e na vida que eu levo cabeça a dentro. Aliás, essa é a nossa maior diferença: você pensa sobre o que você vive, e eu vivo sobre o que eu penso. Somos opostas e ainda assim nos compreendemos.
Saio de casa e o cenário está todo lá: as árvores onde a gente subia, a casa que jurávamos assombrada, os muros que agora parecem altos, nosso eterno refúgio de criança que guarda as marcas da infância. Crescemos, sim. Mudamos, sim. São mais de dez anos ao seu lado, e como você mesma disse, eu nem lembro do mundo antes de conhecer você. Serão mais tantos anos, tantas histórias. Seremos velhinhas finas, tatuadas e moderninhas, teremos casas vizinhas (se um dia você voltar do Rio), jamais perderemos a loucura de mulheres neuróticas pelas madrugadas insones. Amigas são para sempre. Você é para sempre. Não se perca de novo, por favor. Não se afaste mais de mim. Mas se um dia isso acontecer, pode ter certeza: Pararei meu mundo só pra te buscar.