sábado, 30 de maio de 2009

Para ler ouvindo: Tianastácia - O Grito

Eu me formei. Todas as garotas dançaram valsa com os pais, mas eu dancei com o meu irmão. Foi engraçado, já que nenhum de nós sabia o que fazer. Ele me rodopiava e eu me sentia a estrela da pista de dança, nem liguei de incomodar os outros convidados. Tinham era inveja da nossa criatividade. Eu sorri feliz das minhas conquistas, de ter chegado lá. Mesmo que você nem soubesse que lá era meu destino, mesmo que você nem parecesse se importar. E eu não senti sua falta.
Não é triste isso? Eu já te chamei de pai. Mas buscando passado e revivendo emoções, essa é uma palavra digna de merecimento. E você, longe de merecer, parece desprezá-la. Ou talvez apenas ignore seu significado. E eu, que nunca fui pai, expliquei diversas vezes qual era o seu papel na minha vida. Olha, você tem que se preocupar com as minhas notas do colégio e o meu programa de tv preferido. Você tem que me amar, porque é o que os pais fazem. E quando você sentir esse amor, me liga e diz isso. Sente minha falta de vez em quando e me manda um e-mail só pra comentar que ouviu a música que eu gosto e lembrou de mim. Ou melhor, não faça nada disso. Nada vai me recuperar.
Pior que o ódio, só a indiferença. Eu caminho entre esses dois estados numa rapidez inconclusiva, esquecendo da sua existência 364 dias por ano e odiando você quando sua voz ao telefone estraga meu dia. Esse é o seu problema: a mania de deixar as coisas pela metade. Por que você não desaparece pra sempre? Sua vida permaneceria igual sem mim. Confesso que chorei lendo o cartão de aniversário que você me mandou. Mas agora é tarde. Eu não vejo você há mais de um ano e você vem com palavras fáceis, achando que pode mudar uma vida inteira em poucos minutos... Não chorei de saudades, nem de arrependimento. Chorei de angústia, mágoa. Raiva, até. Você tem atrapalhado meus planos de independência, atormenta minha vontade de ser confiante. Eu nem acredito mais nos homens por sua causa: E se um dia eu resolver me casar e me deparar com um homem como você? Eu nunca me apaixonei. Nunca confiei em ninguém. E é tudo culpa sua.
Você nunca mais me viu. Não sabe mais a cor dos meus cabelos, se engordei ou emagreci... Não sabe que mudei meu curso de faculdade, mudei meus sonhos. Desisti de sonhos. O tempo continua correndo, tenho tanta coisa presa em mim. Só queria que você soubesse que eu não precisei de você. Que a sua vingança contra minha mãe não deu certo. Que descontar nos filhos suas frustrações só fez com que eu ficasse mais amarga, mais descrente. Sou seletiva e não sei manter amizades.
Isso te faz melhor? Diminuir todos à sua volta, te fez maior? Essa sua solidão ridícula é o que você queria? O sonho da sua vida era passar o natal sozinho assistindo tv? Então, parabéns. Você cumpriu sua missão no mundo. Chegou a hora de você sumir de vez.

Eu não quero mais te ver
Por que voltou?
Mais mentiras pra contar
Cansei de te escutar
Não há nada que me prenda à você
Você sugou o melhor de mim
E vem pedir perdão
Você é vida
numa estrada em contramão